Era um belo dia de Verão. Dez horas e já o Sol despontava no
céu abrasando o solo com a sua eterna luz. Lembro-me como se fosse ontem.
- Tiaaaagoooooo, levanta-te já!
Sim, é desta forma que acordo todos os dias. Um Sol tão
bonito e um barulho tão ensurdecedor, que combinação fantástica.
- Está bem, avó. Deixa-me estar aqui sossegado – digo-lhe eu
enquanto estou debaixo dos lençóis da cama.
Levanto-me e vou tomar o pequeno-almoço. Pão quentinho e uma
caneca de leite (com açúcar sempre, claro), que apetitoso! Chego ao telemóvel
para ver as horas e vejo lá “10:22 20-Jul-11”. É este o dia, sim, é hoje! Tão
ansioso que estou… Quando chegará a hora do almoço? Não vejo a hora. Vou para o
computador planear tudo com muito cuidado e critério. Fico lá algum tempo e
olho de novo para o relógio: 10:50. Como é possível? Quando quero que o tempo
passe rápido é que ele é lento.
Continuo no PC e depois de ouvir um pouco de “True” dos
Spandau Ballet vou almoçar. Nada melhor poderia estar na mesa: bife com batatas
fritas… Quem diria… Hum! Acabo de comer e vou-me vestir. Digo-lhe que vou sair
e faço-me à estrada. Bem, ao passeio porque não quero ser atropelado mas não
importa… Saio de minha casa, passo pela estação do metropolitano e lá vou eu na
minha caminhada.
14h30 já e ainda nem sinal daquilo que procuro. Continuo a
andar, chego a Carnide, vou pela zona velha da cidade que conheço tão bem. O ar
fresco que sentia me fazia esquecer o calor que estava nesse dia, estava tudo
em plena harmonia, até os pássaros pareciam gostar, mostrando-o com o seu
chilrear típico. Ando mais um pouco e dou de frente com um senhor idoso, com
uma aparência de quem é agricultor, bigode em curva, olhos castanhos e com um
cajado na mão. Chego-me ao pé dele e pergunto-lhe:
- Bom dia. Como vai o senhor?
- Vou bem, e o jovem, como vai?
- Também vou bem, obrigado. Eu gostaria que o senhor me
desse uma ajuda.
- No que eu puder ajudarei sim. Mas sabe, já não tenho o
vigor de outra altura, os bons tempos já lá vão.
- Obrigado mas não é nada de físico, não se preocupe. Estou
procurando um objeto, algo quadrado, ou melhor, retangular, em forma de uma
caixa feita de metal fundido. Ouvi falar que é bem conhecida por estas bandas.
O homem olha-me com ar surpreendido e pergunta-me:
- Mas o jovem sabe o que está lá dentro?
Eu, meio envergonhado, digo-lhe que não.
- Há quarenta anos que moro aqui e nunca se ouviu ninguém
falar dessa maldita caixa e nos últimos tempos é o que mais ouço por todos os
lugares onde vou. Eu sei sim onde está a caixa mas foi-me dito que guardasse a
localização dela com a minha própria vida, se necessário. Sou a única pessoa
que neste momento sabe onde ela está.
- Dizem que tem um mapa lá dentro, é verdade?
- Sim, um mapa de um tesouro. No entanto…
- A sério? De um tesouro? Que emocionante.
- No entanto… Apenas posso dizer o local onde ela está em
forma de enigma. Queres ouvir?
- Quero sim, claro. Estou ansioso.
- Ora cá vai então:
“Nem tanto ao mar, nem tanto à terra,
Nem profundo, nem elevado,
O seu propósito só o vento encerra,
Não o quente, não o gelado.
Há tantas coisas por descobrir
Tantas ferramentas por inventar
Mas somente quem souber sorrir
Poderá a sublime caixa achar.”
- Agora só a ti, caro jovem, cabe a incumbência de descobrir
o paradeiro da tão “sublime caixa” – diz-me o idoso.
- Sim, senhor. Farei os possíveis e os impossíveis. Muito
obrigado pela sua ajuda.