- Olá Paula.
- Olá Cristiano.
- Então como correram as tuas férias?
- Bem. E as tuas?
- Também. Olha, sabes uma coisa?
- Diz.
- Ontem à noite ouvi uns sons estranhos no sótão lá de casa.
Pensei que fosse um dos meus pais mas notei que eles estavam em casa, por isso
não podiam ter sido eles.
- Se calhar foi um rato ou foi imaginação tua.
- Pois, se calhar. Mas e se não tiver sido? Podem ser
ladrões que se estejam a abrigar no sótão para assaltarem a nossa casa. Ou
traficantes, sim também podem ser. Ou…
- Andas a ver muitos filmes, tem calma. Vais ver que não é
nada. É capaz de ser só um bicho qualquer.
- Está bem. Mas…
- Relaxa. – E sorri-lhe, como que a indicar que está ao lado
dele para o que ele necessitar.
Entretanto ambos vão para as suas salas de aula: o Cristiano
para a sua aula de Físico-Química e a Paula para a de Português. Depois de
saírem das aulas decidem passar uma tarde em casa dele, para investigarem aquele
caso juntos. O Cristiano tem 16 anos e anda no 11º ano e a Paula 15 e anda no
10º. À tarde encontram-se em casa dele. É Inverno e está a chover. Ela toca à
campainha.
- Deixem estar, eu atendo.
- Olá Cris. Está a chover bastante.
- Pois, eu estava na janela e está mesmo mau tempo. Põe o
chapéu-de-chuva aí e vamos aqui para o meu quarto.
Ela põe o chapéu-de-chuva na chapeleira e vão para o quarto
dele.
- Como eu te tinha dito – sussurra ele – têm acontecido
coisas estranhas cá em casa ultimamente. Tenho notado que os meus pais têm
andado estranhos, há barulhos no sótão, antes não havia nada disto. Não sei o
que se passa mas espero descobrir.
- Vamos por partes. Que comportamentos estranhos tens notado
neles?
- Ó pá, não sei. Parece que estão mais nervosos. Cá para mim
estão a fazer algo que não devem e não querem admitir. Até pode estar
relacionado com os barulhos.
- Poder pode, mas é só uma hipótese. Também pode não estar.
Além disso, qual o interesse deles em esconderem-te alguma coisa?
- Não sei, mas algo de estranho se passa e eu vou descobrir
o que é.
- Já sabes que podes contar comigo para o que precisares.
- Obrigado, Paula. Preciso mesmo de saber…
O pai do Cristiano abre a porta.
- Desculpem, meninos. Só vinha saber se precisavam de alguma
coisa.
- Não, pai. Estamos bem, não precisamos de nada. Agora, se
não te importas…
- Está bem. Mas portem-se bem. – E sorri-lhes, piscando um
olho, como que a indicar-lhes para terem juízo. – Não se metam em nada que não
devem, tenham cuidado.
Aquela última afirmação tinha-os deixado com a pulga atrás
da orelha.
- Por que terá ele dito aquilo, – pensa o Cristiano para si
próprio – será que… Não, deve ser só impressão, mas e se não for?
- O teu pai estava com um comportamento estranho, não
achaste? Ou isso é normal nele?
- Sim, achei. E até
aquela frase final… Estava agora a pensar nisso. Será que ele tem alguma coisa
a ver com o que se passa no sótão e não quer que vamos lá para não
descobrirmos?
- Então por que não vamos descobrir o que se passa lá?
- É mais fácil dizer do que fazer. Eu ainda só fui lá uma
vez e é ele quem tem a chave do sótão, por isso é um bocado complicado lá ir.
Teríamos de lhe tirar, ir a um sítio que não conheço bem. E se ele nos
apanhasse? Pode ser um traficante de alguma coisa e nos fechar lá, apesar de eu
ser filho dele…
- Vais ver que não é nada, estamos só a imaginar coisas onde
elas não existem.
- Pois, também pode ser. Mas eu continuo a achar que a
atitude dele foi muito estranha.
- Sim, eu também acho. Bem, hoje já não deve dar para irmos
lá mas podemos planear uma estratégia para lhe tirarmos a chave. O que achas,
Cris?
- Acho boa ideia.
Ambos gostam um do outro de uma forma especial mas nenhum
deles quer admitir.
- Então… Sabes onde está a chave?
- Hum… – pensa um bocado e depois diz – Se não me engano,
acho que ele anda sempre com ela ou então guarda-a no cofre, pois eu nunca a vi
mas sei que existe por causa da fechadura e devido à impossibilidade de abrir a
porta sem a chave, já tentei.
- Ok, agora só temos de saber em qual desses sítios ela está
e depois tentar tirá-la de lá.
- Dito assim até parece fácil. Mas olha que não é, ele é
esperto, não ia deixar que lhe tirássemos a chave, ainda para mais se estiver a
esconder alguma coisa.
- Pois, eu sei que não é. Mas se nos organizarmos pode ser
mais fácil. Tu tentas descobrir onde ela está e depois combinamos nos encontrar
e falamos do resto. O que achas? É que se fosse eu a perguntar ele desconfiava.
Para que é que eu quereria a chave do sótão da casa de um amigo meu? Agora tu,
como filho, já é mais normal. Inventa alguma coisa, está bem?
- Ok, vou tentar.
Vão jogar para não dar muito nas vistas. Depois de uma tarde
bem passada despedem-se e ela vai para a sua casa. O tempo já está melhor, já
não chove. O sol aparece no horizonte, quase a desaparecer, dando origem a um
belo pôr-do-sol, com várias tonalidades, do vermelho ao amarelo.
(vemo-nos no próximo episódio...)
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